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BBB e Comportamento | Quem você seria no jogo?

O Big Brother Brasil (BBB) 22 começou. O roteiro não tem grandes novidades, segue o mesmo script praticado há mais de duas décadas: um grupo de pessoas é colocado em uma casa, sem contato com o mundo externo. Os participantes são vigiados 24 horas por dia, enquanto convivem com desconhecidos e enfrentam diversos estressores. Paixões, intrigas, competições, conflitos e polêmicas, tudo segue o mesmo padrão. O que muda são os personagens, estrategicamente selecionados, aparentemente pelas características de personalidade contrastantes, e as pautas que surgem no cotidiano da casa, refletindo debates sociais emergentes. O programa divide opiniões, têm quem adora, quem detesta e quem não se importa. Independente de ser ou não espectador, é impossível não reconhecer o fenômeno social que o reality provoca no Brasil, atualmente potencializado pela repercussão nas redes sociais. A essa altura, você deve estar se questionando qual a relação do programa com saúde mental... Espero responder isso nas próximas linhas.

O BBB pode servir como ponto de partida para diversas reflexões importantes a respeito das relações que estabelecemos com as outras pessoas, com o mundo e com nós mesmos, principalmente diante de situações de estresse em que estamos fora da zona de conforto. Afinal, qual seria o impacto psicológico do isolamento? Como nos comportaríamos em circunstâncias sob as quais não se tem nenhum tipo de controle? Como reagiríamos se precisássemos dividir o espaço com desconhecidos (que também são concorrentes por um prêmio milionário) e que trazem na bagagem as suas características de personalidade e visões de mundo (eventualmente contrastantes com a nossa). Como seria se os nossos medos, ambições, dilemas e verdades se chocassem com os medos, ambições, dilemas e verdades de outras pessoas? Quais características seriam apaziguadas e quais seriam infladas? Quais pontos cegos ficariam evidentes? Como seria se um país inteiro estivesse de prontidão para nos julgar por nossas condutas (as vezes recortadas)? Difícil de estimar, certo?

Na competição, as provas lembram que se trata de um jogo. As festas, regadas a álcool, potencializam a exposição. Os colegas também são concorrentes. O resultado disso é o estresse nas alturas e relações que oscilam entre a idealização, a desconfiança e a dependência. Qualquer semelhança com a vida real não é mera coincidência. Diante de situações de estresse temos duas tendências: lutar ou fugir. Esse processo envolve cascatas biológicas complexas, que tem a finalidade de preparar o corpo para uma reação, uma das consequências disso é o aumento do cortisol, o “hormônio do estresse”. Quando isso ocorre de forma constante, reações exageradas podem ser potencializadas.

A questão é que assim como em algumas situações da vida, no BBB não é possível fugir. Além disso, apesar de enfrentarmos situações de pressão no dia a dia, isso não ocorre 100% do tempo. Nossa tendência é buscar pessoas e circunstâncias que acalmem nossas angústias e que transmitam alguma segurança. É mais fácil controlar os ânimos quando se tem alguma previsibilidade sobre o término do estressor e quando se tem rede de apoio. A insegurança e a imprevisibilidade despertam monstros e potencializam reações. Como seria se essas reações pontuais fossem transmitidas em rede nacional?

Assim, é interessante refletir sobre quais características seriam potencializadas pelo estresse. Em tempos em que a cultura do cancelamento é tão presente, uma reflexão é válida: se você estivesse no BBB, qual característica ou comportamento poderia fazer você ser eliminado ou cancelado? Reconhecer nossas reações diante dos estressores é fundamental para desenvolver estratégias adaptativas mais eficazes. Se você não souber responder a esse questionamento não tem problema. Talvez, essa seja uma pauta importante na sua próxima sessão de terapia.

A CAA/RS oferece atendimento psicológico, presencial ou on-line com consultas a baixo custo (os valores são parcialmente subsidiados pela CAA/RS). Você pode agendar a sua consulta on-line CLICANDO AQUI; ou presencial, consultando nosso Centro de Saúde, em Porto Alegre; ou profissionais conveniados em todo o RS.

Por: Felipe Ornell (Psicólogo da CAA/RS)