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Setembro Amarelo | Desafios emergentes na advocacia

08/09/2022
Créditos de imagem: CAARS - Divulgação
O setembro amarelo está iniciando e, mais uma vez, o olhar para este desfecho de saúde mental grave e trágico - o suicídio - ganha os holofotes. Nos últimos anos, a campanha ganhou alguns desafios extras, já que durante o período da pandemia da COVID-19 observou-se um aumento dos problemas relacionados à saúde mental, como depressão e ansiedade, por exemplo. Provavelmente, esse fenômeno seja decorrente de elementos como isolamento, medo, ansiedade, incerteza, luto e perda de renda, fatores de risco para o surgimento ou intensificação de quadros psiquiátricos (inclusive o suicídio) e que afetaram grande parte da população durante a crise.

Diante disso, é imprescindível que políticas sejam desenvolvidas (ou reestruturadas) para atender as demandas psicossociais das pessoas acometidas por essas condições – sobretudo aquelas que tiveram as vulnerabilidades e fatores de risco acentuados.

Recorrendo à literatura científica atual, nota-se que apesar da intensificação do sofrimento mental durante o período pandêmico, curiosamente as pesquisas realizadas ao redor do mundo não identificaram aumentos drásticos dos suicídios na população geral. Entretanto, é necessário cautela para compreender esses dados, uma vez que o suicídio é um fenômeno multifatorial e as vulnerabilidades são heterogêneas entre diferentes grupos populacionais, ou seja, o retrato da população total pode invisibilizar grupos de risco específicos.

Recentemente, um artigo publicado no Brazilian Journal of Psychiatry demonstrou que o Brasil seguiu a mesma tendência observada no restante do mundo. Em 2020, houve estabilidade geral no número de mortes autoprovocadas, porém ocorreram aumentos drásticos em algumas populações específicas, identificadas a partir da análise de características sociodemográficas (sexo, idade, escolaridade, cor da pele e região de residência, por exemplo). As maiores taxas de aumento dos suicídios ocorreram em mulheres, idosos e pessoas que residem em regiões mais afetadas pela crise, com maiores disparidades socioeconômicas e menor rede de saúde mental, como a região norte. Provavelmente, esses resultados denotam particularidades de populações onde o sofrimento foi intensificado e o suporte restrito.

Esses dados sinalizam algo óbvio: para compreender e prevenir o suicídio, as particularidades dos grupos em questão precisam ser cuidadosamente ponderadas, e aí é necessário falar dos advogados. Nos Estados Unidos da América, por exemplo, as estatísticas sobre a taxa de suicídio de advogados são motivo de preocupação em diversos estados. 

A Dave Nee Foundation aponta que os advogados são o grupo ocupacional mais frequentemente deprimido nos Estados Unidos, apresentando risco 3,6 vezes maior de sofrer de depressão do que os não-advogados. A organização classifica os advogados americanos em 5º lugar na incidência de suicídio, o que acende um sinal de alerta importante, pois isso pode ser uma consequência do estresse que atravessa a atuação desses profissionais. No Brasil, a saúde mental dos advogados e demais profissionais da área jurídica também é preocupante, com altos índices de afastamento do trabalho por estes problemas (Falamos disso AQUI). No Rio Grande do Sul, um levantamento prévio da CAARS revelou níveis elevados de estresse, sonolência, depressão e uso de substâncias (Falamos sobre isso AQUI) e sabe-se que a ocorrência de transtornos mentais é um fator de risco importante para o suicídio e que, portanto, precisa ser contemplado com cuidado (Falamos sobre os principais fatores de risco AQUI).

O suicídio é um tema polêmico, desconfortável, mas necessário. A única forma de quebrar o estigma que permeia esse fenômeno (e frequentemente interfere na busca por auxílio) é naturalizando a discussão e fornecendo medidas de suporte facilmente acessíveis. Durante o mês de setembro, visitaremos essa pauta delicada, mas urgente, sobretudo, focando nas particularidades dos advogados.

Previamente, a CAARS lançou uma cartilha intitulada “Suicídio: Compreender, identificar e intervir, lá estão reunidas as principais informações sobre o tema (fatores de risco, mitos, sinais, como auxiliar pessoas em risco e rede de suporte) Você pode acessar CLICANDO AQUI

Lembre-se: a CAARS oferece atendimento psicológico e psiquiátrico presencial ou on-line. O teleatendimento tem consultas a baixo custo (os valores são parcialmente subsidiados pela CAARS). Você pode agendar a sua consulta on-line CLICANDO AQUI. Caso prefira a consulta presencial, agende no nosso Centro de Saúde, em Porto Alegre, ou entre em contato com os profissionais conveniados em todo o RS. Vale lembrar que o conteúdo das sessões é sigiloso e que a CAARS não tem acesso.

Por: Felipe Ornell  (Psicólogo da CAARS)

Créditos de imagem: CAARS - Divulgação
Fonte: CAARS

Referências

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